Fundos de pensão podem ter sofrido perdas de R$ 8 bilhões com fraude 4q6c4x
Operações fajutas de gestores indicados por políticos provocaram um rombo gigantesco nos maiores fundos de pensão das empresas estatais. A fraude calculada até agora já chega a R$ 8 bilhões, mas, por causa da má gestão, os investigadores calculam

Operações fajutas de gestores indicados por políticos provocaram um rombo gigantesco nos maiores fundos de pensão das empresas estatais. A fraude calculada até agora já chega a R$ 8 bilhões, mas, por causa da má gestão, os investigadores calculam que o rombo chegue a R$ 50 bilhões. Dinheiro de mais de 630 mil trabalhadores, que investiram nos quatro fundos de pensão investigados.
Uma caminhonete ficou lotada de documentos e arquivos de computador. Tirados das sedes de fundos de pensão, de escritórios e casas de dirigentes de empresas.
São 40 investigados. Cinco foram presos. Todos trabalham ou trabalhavam na Funcef. Na lista tem ex e atuais dirigentes também da Petros, da Previ e do Postalis. E dirigentes de empresas que atuaram para prejudicar os fundos.
O esquema funcionava assim: o grupo que fazia as fraudes tinha gente dentro dos fundos de pensão que super avaliava as empresas onde o dinheiro seria investido. E os fundos de pensão acabavam pagando mais pela participação nas empresas do que realmente elas valiam. Os dirigentes de fundos e de empresas se beneficiavam do dinheiro desviado. Um esquema muito parecido com o superfaturamento de obras públicas. Nos endereços aonde foi a polícia encontrou R$ 350 mil, US$ 100 mil, 50 mil euros.
E a Justiça determinou o bloqueio de R$ 8 bilhões em dinheiro e de bens dos 40 investigados, valor do possível prejuízo causado aos fundos. Na lista tem um avião, 139 carros e 90 imóveis. Só que a má gestão dos fundos de pensão já causou um rombo de R$ 50 bilhões, dizem Ministério Público e Polícia Federal.
A investigação começou há um ano e meio. Foram analisados 10 casos em que os fundos de pensão foram usados para irregularidades. E era para descobrir as causas de déficits bilionários dos fundos. Há suspeitas de que o esquema alcance outros cem casos.
Os maiores fundos de estatais têm déficits acumulados. A Petros, da Petrobras, de R$ 22, 6 bilhões; a Previ, do Banco do Brasil, de R$ 16 bilhões; e o Funcef, da Caixa Econômica Federal, R$ 12,4 bilhões. Já o Postalis, dos Correios, tem um rombo de R$ 4 bilhões, sendo que em 2015, teve um déficit de R$ 1,5 bilhão. E o fundo tem cobrado uma contribuição extra justamente para cobrir os prejuízos, assim como a Funcef.
O Postalis é o fundo que Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, paga. Está vindo um desconto de 17,92%. No caso dele, R$ 1.600 por mês. A cobrança a mais vai ser feita até 2039. “Eu acho que no caso do Postalis, por exemplo, é uma união perfeita da má-fé com a incompetência, isso acabou gerando o quê? Gerou o fato de que os espertos se aproveitaram daqueles que eram inocentes e, com isso, causaram um rombo bilionário aos cofres do Postalis, como também dos outros fundos de pensão”, disse Gil.
A Petros disse que está colaborando com as autoridades e comprometida com a transparência e a boa governança.
A Funcef declarou que possui rigorosos padrões éticos em todos os investimentos e na relação com seus participantes.
A Previ informou que as decisões de investimento são pautadas por políticas e diretrizes bem definidas.
O Postalis declarou que o investimento alvo da operação foi feito em 2009 e que, nos últimos anos, aprimorou a governança e diminuiu a exposição a riscos.
Essa operação foi mostrada ao vivo na segunda-feira (5) no Bom Dia Brasil. Cinco pessoas foram presas e mais de 20 levadas pessoas para depor.
De acordo com o Ministério Público Federal, 40 pessoas são apontadas como responsáveis pelas aprovações e implementações dos negócios suspeitos.
São suspeitos de terem praticado crimes de gestão temerária, fraudulenta e contra o sistema financeiro. Foi uma longa investigação, que começou há um ano e meio.
Carlos Alberto Caser, que foi presidente da Funcef, está entre os presos. Ele é apontado como um dos responsáveis por ter aprovado investimentos que levaram o fundo a ter grande prejuízo.
Outro investigado é Alexej Predtechensky, ex-diretor presidente do Postalis, que teria responsabilidade direta na aprovação de investimentos que geraram muitas perdas para o fundo.
Os investigadores, que usaram informações da I da Petrobras, levaram para depor empresários como Walter Torre Junior, do Grupo WTorre, suspeito de pagar propina na construção de um estaleiro.
Os irmãos Wesley, um dos sócios controladores da J&Fe conselheiro da Eldorado Celulose, e Joesley Batista, presidente da holding J&F, dono da JBS, também foram chamados a depor.
Joesley não prestou depoimento por estar viajando. A Wesley foi pedido que explicasse a fusão das empresas Florestal Brasil e Eldorado Celulose, que receberam um aporte de capital de dois fundos de pensão.
Eugênio Staub, presidente da Gradiente, também foi ouvido. A Polícia Federal afirma que a Funcef investiu em um fundo da empresa dele e teve prejuízo.
A operação também atingiu empresários conhecidos na Operação Lava Jato. O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro é apontado por ter se beneficiado de investimentos de três fundos em uma empresa, a Invepar, que foi constituída pela OAS e pela Previ. Léo Pinheiro, que ficou em silêncio no interrogatório, acabou preso por ordem do juiz Sérgio Moro em uma outra investigação da Lava Jato.
O grupo J&F divulgou nota afirmando que sempre se pautou pela ética e pela impessoalidade e que o valor atual da participação da Petros e da Funcef na Eldorado Celulose é de R$ 3 bilhões, calculados por auditorias independentes. Esse valor, segundo a J&F, é seis vezes maior do que o investimento de R$ 550 milhões feito em 2009 pelos fundos de pensão.
O Grupo WTorre declarou que não tem negócios com o poder público, nem relação direta com nenhum dos fundos de pensão citados na operação.
A OAS afirmou que Léo Pinheiro não exerce mais qualquer cargo na empresa.
A Invepar declarou que todas as concessões que fazem parte do grupo estão operando.
A defesa de Léo Pinheiro não se manifestou.
O Bom Dia Brasil não conseguiu contato com as defesas de Eugênio Staub, Carlos Alberto Caser e Alexej Predtechensky.
Leia abaixo a íntegra das respostas das empresas e instituições citadas na reportagem.
J&F
A respeito da presença da Polícia Federal hoje nas sedes da J&F e da Eldorado por ocasião da operação Greenfield e que investiga os investimentos dos fundos de pensão por meio dos FIPs (Fundos de Investimentos em Participações), a empresa esclarece que os investimentos feitos pela Petros e Funcef na Eldorado foram de R$ 550 milhões no ano de 2009. De acordo com o último laudo independente (Deloitte) emitido em dezembro de 2015, a participação dos fundos atualizada é de R$ 3 bilhões, ou seja, 6 vezes o valor investido inicialmente. A J&F e seus executivos esclarecem que colaboram com as investigações e estão à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários.
WTORRE
São Paulo, 05 de setembro de 2016 - O Grupo WTorre vem novamente à público esclarecer que não tem negócios na esfera do Poder Público. A companhia não teve e não tem nenhuma relação direta com nenhum dos fundos de pensão citados na Operação Greenfield. A companhia e seus executivos estão, sempre que solicitados, à disposição da Justiça e demais autoridades.
OAS
"A OAS não tem o que comentar, aproveita e informa que José Adelmário Pinheiro Filho não exerce mais qualquer cargo na empresa e sugere que procurem o seu advogado."
INVEPAR
Rio de Janeiro, 5 de setembro de 2016 - A Invepar informa que, na manhã desta segunda-feira, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na sede da companhia e na sede de sua subsidiária GRUPAR, no âmbito da operação Greenfield; e esclarece que, com o início das atividades da Linha 4 do metrô, do VLT Carioca e da VIA RIO, todas as 12 concessões que fazem parte do grupo Invepar estão em fase operacional.
PETROS
"A Petros informa que está colaborando com a Polícia Federal, com o Ministério Público e demais órgãos responsáveis por investigações que envolvem a Fundação. A decisão judicial que determinou a busca e apreensão nesta segunda-feira (5/9), na sede da Petros, refere-se a documentos de investimentos cujo processo de decisão ocorreu até 2011. A Petros reforça o comprometimento da gestão com a transparência, as boas práticas de governança e a responsabilidade na istração dos recursos."
FUNCEF
A FUNCEF confirma operação da Polícia Federal em sua sede, em Brasília, para o cumprimento de mandados judiciais. A Fundação reitera que possui rigorosos padrões éticos em todos os investimentos e na relação com seus participantes e assistidos e reafirma que está, como sempre esteve, à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados.
PREVI
Com modelo de governança maduro e transparente, reforçamos nosso compromisso com o aprimoramento do sistema de Previdência Complementar Fechado
A PREVI esclarece que, em operação da Polícia Federal realizada na manhã desta segunda-feira em alguns fundos de pensão, agentes da PF estiveram na sua sede, no Rio de Janeiro, para cumprir mandado emitido pela Justiça Federal do Distrito Federal para busca e apreensão de bens e documentos sobre investimentos realizados por entidades fechadas de previdência complementar. Toda a documentação requerida foi disponibilizada.
Ressaltamos que, no âmbito da I dos Fundos de Pensão concluída recentemente na Câmara dos Deputados, o relatório final da investigação confirmou a boa governança da PREVI. Nenhum dirigente ou executivo da Entidade estava entre as pessoas indiciadas pela comissão, assim como não houve qualquer constatação de irregularidades do fundo.
A PREVI possui um modelo de governança maduro e transparente, um corpo técnico qualificado e as decisões de investimento são pautadas por políticas e diretrizes bem definidas, que sempre buscam a remuneração adequada do capital no longo prazo. É importante lembrar que todas as decisões são colegiadas, pautadas em análises técnicas.
A PREVI reforça o seu compromisso com o aprimoramento do sistema de Previdência Complementar Fechado e se coloca à disposição da Justiça e das instituições brasileiras para prestar todo e qualquer esclarecimento necessário, à luz dos preceitos constitucionais e legais. A Entidade segue confiante na solvência e liquidez de seus planos e firme na sua missão de pagar benefícios aos seus mais de 200 mil associados.
POSTALIS
O Postalis reou à Polícia Federal todas as informações solicitadas. O Investimento objeto da operação, no caso do Postalis, foi realizado em 2009. Nos últimos anos, o Postalis investiu muito para aprimorar a sua governança e já conseguiu importantes avanços no sentido de assegurar que os investimentos sejam feitos de maneira mais segura, transparente e com menor exposição a riscos.
Fonte: G1.globo.com/bom-dia-brasil
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